Existem poemas que perduram na nossa memória por mais que os anos passem sobre a sua leitura. De Pessoa ao seu grande amigo Mário de Sá-Carneiro, sem esquecer Florbela Espanca ou Sophia de Mello Breyner, citando apenas alguns exemplos. Através da sua poesia sorri, chorei, fiquei melancólico ou até eufórico. Há poemas que de uma forma ou de outra, me despertam os sentidos e as emoções. Sou emocional. O ser humano é emocional. É algo inato e pode variar de povo para povo e de cultura para cultura, porém, a emoção está sempre presente, ora mais contida, ora mais expansiva. É preciso sentir, viver e experienciar e assim a criatividade revela-se, emancipa-se do âmago de cada um. Foram as emoções que impeliram os autores acima citados a tirarem dentro de si algo maior mostrado sob a forma de poesia.

Esta pequena introdução retrata, na minha opinião, tudo aquilo que a fotógrafa espanhola Isabel Diez conseguiu explanar na perfeição no seu mais recente livro, lançado em 2021, “Entre Mareas”. A cada página folheada, a cada imagem visualizada, os sentidos apuram-se. É poesia escrita com luz. É navegar na linha ténue entre o racional e irracional num exercício puro de criatividade, mostrando de uma forma simplista que o limite criativo está dentro de nós, questionado inclusive a essência do fotógrafo.  Derrubar esse limite é o desafio. Capítulo a capítulo, imagem a imagem, a autora mostra como a criatividade pode e deve ser infinita. Este livro reforça a ideia, cada vez mais enraizada, que a fotografia vai muito além do mero registo documental.

Num olhar mais atento, irei percorrer cada um dos 5 capítulos do livro. Transcrevo nas próximas linhas o que o meu lado sensorial foi detetando.

Capítulo 1 – La Esencia onírica del agua

As primeiras imagens deste capítulo inicial são o mar no seu estado mais puro. As ondas, a sua cor e beleza mostradas como o olho humano as vê. Consigo sentir o cheiro do mar ao folhear estas primeiras páginas e esse é o melhor elogio que posso fazer a este conjunto de imagens. Leveza é a palavra que me ocorre ao percorrer as imagens seguintes. Aveludadas, suaves e macias é assim que as vejo. Vontade de tocar e sentir aquelas ondas. Os sentidos estão despertos e ainda estou apenas no primeiro capítulo. As últimas imagens desta série são o prenúncio para os capítulos seguintes. A autora explora elementos, as suas formas, texturas e cores que se fundem com a água de uma forma mais abstrata. Momentos efémeros passados à beira-mar.

Capítulo 2 – La Plasticidad de las rocas

Este capítulo revela ao leitor uma história de amor. Um amor inocente em que o mar assume o papel de Bela e as rochas o papel do Monstro. Envolvem-se e fundem-se num passo de dança único. A suavidade com que o mar envolve as rochas, esse elemento que é muito mais que a rudez que personifica, é comovente, transporta-me para um romance com final feliz. A cadência da ondulação marca o ritmo deste amor. As rochas, esculpidas por esta relação milenar, aguardam como sempre, a subida da maré, para novamente se verem envolvidas pelo lado esquivo do mar que por entre elas serpenteia. Este conjunto de imagens impele-me para a simbiose perfeita de um ser único, onde tudo é harmonioso, tal puzzle devidamente acomodado com todas as suas peças.

Capítulo 3 – El arte efímero de la arena

Caminhar à beira-mar com a máquina fotográfica é das coisas que mais prazer me dá. Um olhar mais atento e existe uma panóplia de oportunidades fotográficas que se revelam a cada passo. O lado abstrato do que nos rodeia numa caminhada à beira mar é mostrado neste capítulo. Os atores principais são agora dois companheiros de uma vida: água e areia. As linhas, formas e cor da areia moldam a totalidade deste conjunto de imagens. Questiono-me se estaremos na Intertidal, mas não encontro resposta. O Mar, ator principal deste livro, aparece aqui como o elemento intrigantemente abstrato, conferindo mistério a cada imagem. É o elemento que molda cada uma das imagens e que nos leva além do óbvio. Termino este capítulo a pensar em como é desafiador retratar as coisas simples que nos rodeiam, dando-lhes uma nova alma.

Capítulo 4 – Trazos y colors de las algas

Entro em outro mundo, num universo paralelo onde a ficção e a realidade estão de mãos dadas. Este é, na minha opinião, o capítulo do livro onde se revela o expoente máximo da expressão criativa da autora. Num planeta longínquo, algas marinhas navegam numa narrativa única, por entre formas e cores movimentadas arbitrariamente pela força do mar. Sou impelido a deixar-me arrastar para este emaranhado criativo, pincelado de forma assertiva, que se une em momentos únicos e irrepetíveis. Sinto esse mar, que tanto me fascina, e nele me deixo transportar e navego lado a lado com as algas marinhas num ritual sincronizado sustentado pela ondulação.

Capítulo 5 – Algunos moradores

O nosso mundo está pejado de pequenos seres. Há que lhes dar vida, mostrar a sua essência. A sua beleza, aqui ampliada, revela um mundo minúsculo que me invade a mente com histórias de fantasia. Pequenas lapas e caracóis do mar tem um papel principal neste capítulo, repleto de cor e vida e nem o mexilhão escapa a este olhar mais atento. O brilho que emanam estes seres, dá-me vontade de lhes tocar e sentir com a ponta dos dedos a sua textura. Neste reino da fantasia tudo é possível e as mortíferas Anêmonas-do-mar, são mostradas como um ser sensual e belo, assim como os coloridos ouriços do mar, neste mundo não revelam o quão perigosos podem ser.

Resumo

Após receber o livro e passadas algumas horas, apoderou-se de mim uma vontade imensa de ir fotografar. Sair de casa e ir de encontro a uma praia e deixar-me levar pelo som do mar. Sentir a brisa marítima a tocar-me no rosto e o cheiro da maresia a entrar pulmões adentro e por fim deixar a criatividade fluir ao seu próprio ritmo. Sem pressas e sem pressões.

Onde comprar?

A autora na sua página pessoal tem toda a informação necessária para a aquisição do livro. Foi do link que partilho abaixo que encomendei o meu exemplar. Nesse link tens acesso a informação mais detalhada sobre o livro, como o preço, nº de páginas, formato, idioma, nº de fotografias, etc.

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