Nos últimos anos tem-se assistido a uma mudança de paradigma no que diz respeito às máquinas fotográficas. As DSLR, na minha opinião, serão meras peças decorativas num futuro não muito longínquo, à semelhança do sucedido com as SLR, que hoje em dia embelezam a minha sala e escritório. Nada a que não se tenha assistido no passado. A título de exemplo, há uns anos atrás também o sistema TLR foi substituído pelo sistema SLR. A tecnologia evoluí e as tendências de mercado vão-se alterando ao ritmo do avanço tecnológico.
O domínio do mercado, até aqui implacável por parte das DSLR, tem sofrido um enorme revés nos últimos anos. O aparecimento e evolução das máquinas fotográficas Mirrorless tem exposto os pontos fracos das DSLR, colocando em causa, sobretudo, a sua evolução. Os consumidores, ávidos seguidores das tendências de mercado e carenciados de tecnologia de ponta, não hesitam na hora da troca. Ainda que de forma lenta, tem-se assistido ao eclipse do sistema DSLR, sobretudo no que diz respeito ao lançamento de novos equipamentos por parte das principais marcas.
Logicamente o sistema DSLR continua a ser extremamente fiável e usado por muitos fotógrafos espalhados por esse mundo fora. Em sentido inverso, o sistema Mirrorless tem várias oportunidades de melhoria pela frente, mas acredito estarmos num caminho sem retorno, onde as marcas vão apostar cada vez mais todas as suas fichas no aperfeiçoamento do sistema Mirrorless.
Se fizer um estudo tendo por base o meu círculo de amigos fotógrafos que nos dias de hoje possuem uma Mirrorless em prejuizo do sistema DSLR, facilmente se percebem as motivações que sustentaram essa mudança. Tamanho e peso. Estas duas virtudes tem sido, senão as principais, umas das principais bandeiras promocionais das marcas. A mesma qualidade e performance numa máquina fotográfica mais pequena e mais leve.
Em meados de Novembro e fruto da mudança natural que tenho verificado na minha forma de fotografar, identifiquei a necessidade de ter uma nova objetiva zoom, para não estar limitado aos atuais 200mm de distância focal.
Face à constante evolução tecnológica e à atual tendência de mercado, surgiu uma questão natural: continuar a investir num sistema que aparentemente tem os dias contados ou ir gradualmente mudando para um sistema Mirrorless. Acredito que muitos dos que ainda tem, como eu, um sistema DSLR tenham em algum momento levantado esta questão. É no mínimo pertinente para os amantes da fotografia. De momento continuo em reflexão, experimentação e troca de ideias com outros fotógrafos e a seu tempo, tomar uma decisão em consciência e assertiva.
É no meio deste período refletivo e por cortesia da Olympus Portugal que surge a oportunidade de fotografar durante alguns dias com uma Mirrorless, por sinal, uma das joias da coroa da marca nipónica, a Olympus E-M1 Mark III. Ocasião de ouro para usar uma máquina mais pequena, mais leve e com a mesma qualidade de imagem. Este último aspeto, qualidade da imagem, tem sido questionado largamente, sobretudo pela camada de fotógrafos amadores avançados, semiprofissionais ou profissionais. Este questionamento prende-se essencialmente com a aposta da marca num micro sensor 4/3 e considerado por muitos o calcanhar de aquiles da marca, sobretudo quando usado com ISO´s elevados, levando essa faixa de fotógrafos atrás mencionado a esquecer outros atributos desta máquina, como por exemplo, o seu poderoso sistema de estabilização de imagem. Mas será efetivamente o sensor, o seu calcanhar de aquiles?
Para encontrar resposta a esta questão recorri a algo que está (muito) presente no meu dia à dia profissional: testar!
O primeiro set de testes envolveu fotografar determinado assunto com a mesma abertura e distância focal. Comecei por fotografar a ISO 200 e fui incrementando 1 stop a cada imagem até chegar a ISO 6400. Para que em termos de exposição tivesse imagens semelhantes, fui efetuando compensações com a velocidade de obturação. Para efeitos deste artigo apenas partilho as últimas 4 imagens, obtidas com ISO 800, 1600, 3200 e 6400. Abaixo crop´s de 100% das 4 imagens. Passe com o rato por cima das imagens para as ampliar e poder visualizar com maior detalhe.
Este primeiro set de testes evidencia que o comportamento do micro sensor 4/3 da Olympus E-M1 Mark III é belissímo, mesmo quando se usa ISO 6400. Nas zonas escuras da imagem é produzido algum ruído, mas algo que facilmente se remove com um software de edição de imagem. Para quem não quer perder tempo a editar, pode sempre utilizar a opção de noise reduction nativo da máquina fotográfica.
Satisfeito com os resultados obtidos, resolvi efetuar um segundo set de testes. Algo ligeiramente mais arrojado. Em tudo semelhante ao primeiro, mas desta feita, incluí neste exercício a minha Nikon D750 (sensor full frame) por forma a poder comparar resultados. Pode não ser justo face à suposta “disparidade” entre sensores, mas é, na minha opinião, a única forma de aferir se efetivamente o micro sensor 4/3 é o calcanhar de aquiles da Olympus E-M1 Mark III ao ponto de não poder competir com as máquinas fotográficas de sensor full frame ou APS-C em termos de qualidade de imagem. Passe com o rato por cima das imagens para as ampliar e poder visualizar com maior detalhe.
TESTE ISO 1600
TESTE ISO 3200
TESTE ISO 6400
À luz dos resultados aqui mostrados, mais uma vez, sobressai o desempenho da Olympus E-M1 Mark III. A inevitável comparação com as imagens obtidas a partir da Nikon D750, só vem atestar o belíssimo comportamento da Olympus e mesmo para os mais céticos, onde eu me incluo, tenho de aceitar que a diferença de desempenho não é gritante, como inicialmente pensei.
Falando na primeira pessoa, tendo por base os testes que realizei no “mundo real” durante o período experimental e levando em conta o tipo de fotografia que maioritariamente faço – paisagem natural – não me senti minimamente limitado ou em algum momento tive necessidade de recorrer à minha Nikon D750. No que diz respeito à qualidade da imagem, convém também referir, que raramente utilizo ISO´s superiores a 3200 e mesmo este, uso em situações muito especificas.
Irei optar na hora da mudança de sistema por uma máquina fotográfica com um micro sensor 4/3? O futuro o dirá, mas certamente que de hoje em diante vejo este tipo de equipamento sem reservas e estigmas associados.
Em jeito de conclusão e é a minha opinião meramente pessoal baseada na minha experiência fotográfica e no tipo de fotografia que normalmente faço, parece-me redutor, independentemente das variáveis a considerar numa mudança de sistema, não considerar opções de máquinas fotográficas – como por exemplo a Olympus E-M1 Mark III – com micro sensor 4/3 sob a desculpa da qualidade final da imagem.