“Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho (…)“
Sophia de Mello Breyner Andresen
Nas falésias escarpadas e esculpidas, pelos ventos e marés tempestuosos da Costa Vicentina, escutam-se murmúrios e suspiros. O vento, com todo o seu vigor, faz-se ecoar de forma melodiosa por toda a costa atlântica. Ao longe, avisto o farol de Sagres. As nuvens, que transportam consigo uma negritude invulgar, deixam antever a chuva que está prestes a chegar. A paisagem – vertiginosa – é de cortar a respiração. De forma abrupta, as falésias precipitam-se sobre um mar, quase sempre em fúria. As cordas, cravadas nas rochas, indiciam a presença de pescadores na busca dos melhores pesqueiros.
Aqui é terra de ninguém. As constantes intempéries, ajudam a moldar uma paisagem já de si agreste e quase inóspita. Neste pequeno promontório, onde me encontro, são visíveis vestígios de outras eras. Diante de mim tenho o imponente Geomonumento – termo para monumento natural (Decreto-Lei 19/93, de 23 de Janeiro) – da Praia do Telheiro.
Esta classificação deve-se a uma “ocorrência natural contendo um ou mais aspetos que, pela sua singularidade, raridade ou representatividade em termos ecológicos, estéticos, científicos e culturais, exigem a sua conservação e a manutenção da sua integridade”. Este Geomonumento, é tido em todo o mundo, como um referencial no que respeita a uma “exemplificação de uma discordância angular”.
É hora de suster a respiração. Outrora, este local encontrava-se submerso por um antigo oceano e banhava dois continentes. Há aproximadamente 280 milhões de anos, esses continentes entraram em rota de colisão e deram origem a uma extensa cadeia de montanhas. Parte dessa cordilheira montanhosa – que engloba a Península Ibérica – é hoje maioritariamente o sul da Europa. Fruto da erosão e com o avançar dos anos, foram-se depositando areias avermelhadas por impregnação do óxido de ferro.
Aglomerados de areia, vulgos arenitos, formados no Triásico, são aqui visíveis em camadas de diferentes cores. Areias vermelhas, amarelas, brancas e vestígios de antigos corais, facilmente se distinguem nesta paisagem que grandes transformações foi sofrendo ao longo dos tempos. Este é um autêntico museu natural e alvo de estudo por geólogos um pouco por todo o mundo. É nosso dever enquanto cidadãos, proteger este património que já testemunhou algumas das alterações mais importantes que o nosso planeta sofreu.
Texto e fotos por Nuno Luís