Procurar e descobrir na Península Ibérica um local diferenciado e pouco habitual por estas paragens é um exercício que pode ser desafiante. Afinal é uma área com cerca de 580.000 km2 de extensão. Nada que me faça desistir. Sou ávido em conhecer novos locais a explorar “perto” de casa. Assim, é comum exercitar esse exercício incessante por novos lugares com potencial fotográfico.
Horas a fio a cruzar nomes de locais aos quais associo várias imagens. Após esta primeira triagem, verifico se o local é elegível para visitar. Por fim, há que garantir se é exequível visitar esses locais de carro ou terei de procurar outras alternativas como meio de transporte. Montanhas, lagos, bosques encantados, zonas costeiras selvagens, vulcões e mais uma panóplia imensa de atrações naturais, existem um pouco por toda a Península Ibérica. A cada local procurado, viajo um pouco nele através das pesquisas efetuadas e das imagens consultadas.
Foi assim, como tantos acasos da minha vida, que tropecei, tal pedra da calçada, no nome Bardenas Reales. Um parque natural localizado no país vizinho, mais concretamente no extremo oriental da Comunidade Autónoma de Navarra. Não foi amor à primeira vista. Este não é um nome como outro qualquer. Não me soava a um lugar sugestivo, como se os locais tivessem de o ter. Coisas minhas.
Em Espanha existem nomes de locais mais apelativos. Nomes como Picos da Europa, Ordesa y Monte Perdido ou até País Basco e a forma como são soletrados invocam a algo majestoso e de extrema beleza. Bardenas Reales nem por isso. Como estava enganado…
Justiça seja feita, a beleza de um local não se mede pelo nome. Mas se há coisa que gosto é de fantasiar. Fantasio como será determinado local. Terá um rio? Um bosque? Uma montanha? Todo este saudável desvaneio emerge apenas e só de um simples nome e se o mesmo transmite sensações positivas.
Estava eu longe de imaginar que as Bardenas Reales não é mais, passe o eufemismo, que um “simples” deserto localizado na Península Ibérica a “pouco” mais de 900 km´s de Lisboa. Não é bem aqui ao lado, mas fica mais perto, por exemplo, que o Grande Canyon nos Estados Unidos, que salvo as dimensões, as semelhanças são evidentes. Ao olhar as primeiras imagens resultantes da pesquisa efetuada, pensei para comigo: quero ir ali!
É um local sui generis. Inóspito. Desolador. Seco. Muito seco, como qualquer deserto e onde a vegetação não abunda. Algumas aves de rapina são possíveis de avistar, pavoneando-se pelos céus. O vento e a chuva são os responsáveis por esculpirem e moldarem a paisagem. As formações arenosas e as suas irregularidades, levam-me pelos corredores da memória, mais concretamente a minha infância. No verão as visitas à praia eram constantes. Em criança sempre brinquei com areia molhada. Areia essa que me escapava entre os dedos e de forma inusitada, pequenos amontoados ganhavam vida com forma e aspeto irregulares.
Em dias de sol, sobretudo com uma luz mais rasante, típica do início ou fim de dia, a paisagem nas Bardenas Reales ganha uma outra vida. Tridimensionalidade é a palavra que me ocorre para descrever o que vi. E sim, para descrever o que vi, porque não me contive e fui em busca desse tal local de nome pouco sugestivo.
Texto e fotos por Nuno Luís