Encontro-me a caminho da Serra do Açor para liderar mais um passeio fotográfico Primeira Luz. Serpenteio entre estradas sinuosas que me irão levar a Vide. Desde tenra idade que a conheço como “Terra dos Sonhos”. Esta pequena aldeia, localizada num luxuriante vale e circundada por belíssimas montanhas, é dividida pela Ribeira de Alvoco, que tem igualmente o condão de cortar o cordão umbilical que une o Parque Natural Serra da Estrela da não menos bela, mas não tão afamada, Serra do Açor.
À medida que me aproximo do meu destino, sou invadido por um nervoso miudinho. É o mesmo que desde tenra idade me assola nestas viagens. As minhas raízes, as maternas, advém daqui. As visitas anuais que perduram até aos dias de hoje, sempre foram sinónimo de férias – sobretudo as de Verão – e de reuniões familiares.
A cada visita, a nostalgia invade-me o espírito. É hora de rever velhas amizades, daquelas tão antigas como praticamente eu me lembro de mim ou de mergulhar com deleite em pequenos paraísos recônditos nos arredores da aldeia, sem esquecer os bailes que vão acontecendo pela freguesia e que animam as noites de Agosto.
Em miúdo, não raras vezes e sempre em boa companhia, subi ao Monte do Colcurinho. É um dos ex-libris da região. Uma soberba vista 360º sobre a área circundante esmaga o olhar. O horizonte é o limite. Um emaranhado de vibrações positivas vagueia pelo ar.
Era uma grande aventura naqueles idos tempos. Caminhar noite dentro e chegar antes do sol raiar para presenciar esse momento sempre apaixonante em que o dia se renova e assistir in loco à forma como ele, o astro rei, molda e acaricia as linhas esbeltas da cordilheira montanhosa da Serra do Açor. Hoje a tradição ainda se mantém. Os intérpretes, esses, são quase sempre os mesmos.
Foi neste contexto que ano após ano a Serra do Açor se foi enraizando em mim. A fotografia, ainda que timidamente e sem pedir licença, foi entrando na minha vida como um revigorante raio de luz e foi com naturalidade que comecei a explorar a Serra do Açor, cujo seus recantos, rapidamente viraram encantos perante os meus olhos. Esses mesmo, ávidos de novos horizontes fotográficos.
Ainda me lembro de Foz de Égua, hoje apelidada de aldeia Hobbit, não ser mais que um amontoado de casas maioritariamente em ruína ou da estrada vertiginosa, na época a única alcatroada, que tantas vezes em família me levava ao Piódão a partir de Vide.
Anos mais tarde, num dos passeios familiares típicos de Verão, descobri a Fraga da Pena e a Mata da Margaraça. Eram nomes que soavam a estranho. O mesmo não achava da sua imensa beleza. Nem os abruptos precipícios que se encontram por entre o ziguezague das estradas da Serra do Açor me demoviam de querer ir mais além e continuar a explorar e descobrir. A cada ano que passava, sentia-me cada vez mais embeiçado e enfeitiçado pelo encanto único desta Serra, onde se encontram alguns dos locais mais arrebatadores desta região central de Portugal.
Entalada entre a Serra da Estrela e a Serra da Lousã, a outra Serra, a do Açor, prima pela discrição e tem uma personalidade e identidade muito própria. A cada curva e contracurva os seus mistérios suavemente se revelam. As suas belezas naturais degustam-se vagarosamente. A alma regozija-se. Os sentidos apuram-se. Florestas, bosques e cascatas são o seu principal cartão de visita. As suas estradas vertiginosas são intimidantes, mas para os mais ousados a recompensa é gratificante. É a magia da Serra do Açor!
Texto e fotos por Nuno Luís