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Primeira Luz: 10 anos de formação

Outubro 29, 2020

Este projeto tornou-me a mim, e penso que aos meus colegas, melhor fotógrafo”. Estas palavras foram proferidas pelo Luís Afonso, em resposta a uma questão colocada durante as filmagens do vídeo promocional da então Fotonature, em 2013. A celebrar o 10º aniversário deste projeto e à luz destas palavras, aproveito o momento para proceder a uma pequena reflexão do que mudou em mim enquanto fotógrafo e igualmente como formador e do próprio projeto em si.

O Início

 

Não fazia sentido iniciar esta pequena reflexão sem fazer uma espécie de viagem ao passado e à forma como tudo se iniciou. Por vezes a memória atraiçoa-me, pega-me partidas, até aqui nada de mais, afinal já passaram 10 anos desde aquele dia em que eu e o Pedro resolvemos criar a Nature Workshops. Sim, foi esse o primeiro nome da agora recém-batizada Primeira Luz. Algumas lembranças continuam tão presentes e revejo-as de forma tão cristalina que parece que ainda ontem as experienciei. Outras, talvez as menos boas, são recordadas de forma menos clara, mais turvas e dissipadas pelos corredores da memória. Certo é que há dois sentimentos que me assaltam sempre que me recordo daqueles já longínquos dias: saudosismo e insegurança. Começando pelo primeiro, há uma saudade da forma inocente como tudo se iniciou. A paixão pela fotografia fazia-nos mover montanhas! Era a época em sonhávamos e almejávamos algo grandioso como fotógrafos. O projeto seria o primeiro passo para algo com uma dimensão ainda maior. Naquela época, para mim e para o Pedro, o céu era o limite, tal a nossa ambição em fazer de tudo para que o projeto vincasse e fosse uma referência.

 

Flyers de divulgação de workshops referentes a 2008

Do segundo, relembro sempre a insegurança inicial que havia a cada workshop. As primeiras apresentações eram simplesmente hilariantes, tal o nervosismo que nos assolava a alma, afinal, era um mundo novo que se abria. Tanto eu como o Pedro, e apesar da experiência e conhecimento fotográfico que tínhamos, jamais tínhamos dado formação, fosse em fotografia ou em outra área. Tivemos de estudar esta arte com o intuito claro de ter uma linguagem fluída e compreensível para a nossa plateia. Perante esta insegurança, nos nossos diálogos, não raras vezes encontrávamos algum conforto na crença de podermos ser efetivamente uma mais-valia neste exercício que é a formação. Penso, sem presunção alguma, que de facto éramos e contínuo a acreditar que somos uma mais-valia, ainda que o meu entendimento sobre esta matéria seja substancialmente diferente daquela que tinha há 10 anos atrás. Mas sobre isso falaremos mais à frente. Verdade seja dita, essa insegurança nunca me largou até aos dias de hoje, apenas aprendi a lidar com ela a cada experiência fotográfica.

O Fotógrafo

Este furacão chamado Primeira Luz que em 2007 entrou na minha vida, teve uma influência tremenda em mim enquanto fotógrafo. Abriu as portas da minha perceção fotográfica e alterou o meu entendimento e linguagem sobre a mesma. O espectro constante da “Paisagem Natural” e da “Grande Angular” foi-se desvanecendo, de forma proporcional ao crescimento do projeto. Experienciei várias fases de maturação, num processo sempre contínuo de aprendizagem e crescimento e tornei-me um fotógrafo diferente, fruto da partilha constante com as mais diversificadas pessoas, onde fui bebendo da experiência individual de cada um. Nos diálogos que mantenho durante as ações fotográficas gosto sempre de vincar esta influência que os formandos tem tido no meu percurso fotográfico. Muitos pensam que o digo por simpatia…

O Formador

Enquanto formador, nos dias de hoje, vejo e sinto a partilha sob uma perspetiva diferente. Hoje há uma consciência que não basta ensinar a controlar a luz. Sabe a pouco! Há sempre algo que vai muito além da abertura do diafragma, da velocidade de obturação e da sensibilidade. Não é suficiente mostrar onde está determinada opção no menu da câmara fotográfica ou indicar qual o melhor equipamento para ser adquirido. Os formandos, e de forma legítima, anseiam algo mais, na verdade, muito mais. No bom sentido não nos deixam descansar, a mim e aos restantes elementos da Primeira Luz. Obrigam a que tentemos estar sempre um passo à frente. Nos dias de hoje tenho a consciência para incentivar, por assim dizer, os formandos a pensar e a questionar a sua própria fotografia, a ter sentido crítico sobre a mesma. Não quero que façam fotocópias do que já existe! Em sentido inverso, quero que sejam criativos, que deem um cunho pessoal que os faça trilhar e consolidar o seu percurso enquanto fotógrafos. Logicamente que é necessário entender e perceber o estado de maturidade de cada formando e quais as suas expectativas. Cada formando é único, com um nível de conhecimento e experiência diferenciada. Igualmente o gosto fotográfico também difere, inclusive dentro da mesma temática fotográfica. Saber desafiar, incentivar e inspirar são algumas das premissas obrigatórias para a satisfação e realização de quem nos procura. Na rua, na natureza, em estúdio, de dia ou de noite, há sempre algo a acrescentar que possa ser diferenciador. Se por um lado é um desafio tremendo balancear e equilibrar tantas variáveis, não deixa de ser motivador e extremamente desafiante pertencer a um projeto desta natureza.

A estatística é como o algodão, não engana, e mostra que temos um número elevado de repetentes, que permite entre outras coisas, avaliar a evolução de cada um. E aqui o ser repetente não é de forma algum em sentido pejorativo. Esta é a parte gratificante para mim, e penso que restante equipa, quando os formandos percebem que afinal vale a pena o investimento que levam a cabo. Não escolhemos o caminho que cada um deve seguir, mas temos a obrigação de mostrar as várias opções. O dever de percorrer determinado percurso e a forma como o mesmo é feito, pertence ao formando.

A Soma

O todo é a soma das partes. De forma inconsciente este tem sido o nosso lema ao longo destes 10 anos. É a força motriz que tem permitido superar as tormentas encontradas nesta incursão pelo mundo da formação e das experiências fotográficas que em alguns momentos se revelou sinuosa. Desta aritmética a maior quota-parte de responsabilidade pela evolução e crescimento do projeto pertence a quem nos procura desde 2007. Eles são o motivo para tudo o que aconteceu nestes últimos 10 anos. A nós compete-nos ir de encontro aos seus anseios e desejos, e se hoje somos uma referência em experiências fotográficas em Portugal, deve-se em grande parte a quem nos acompanha neste trajeto. Se os elogios massajam o nosso ego e nos fazem perceber que estamos no caminho certo, as criticas também nos dão o entendimento necessário que este projeto está e estará sempre em constante mutação e que não há a fórmula certa. Se essa fórmula existe, certamente que começa com o saber ouvir aquelas pessoas que perdem algum do seu tempo e investem algum do seu dinheiro para nos acompanhar.

O Sustentáculo

Este último parágrafo é dedicado aos meus colegas de equipa e ao sustentáculo que tornou possível estarmos a celebrar 10 anos de existência. Um dos sentimentos mais puros e bonitos que existe: a amizade! É ele que tem permitido cimentar e alavancar a essência do que é a Primeira Luz. Sem ele, não haveria fórmulas de sucesso que resistissem aos desafios que fomos superando e às adversidades que tivemos em alguns momentos de enfrentar.